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A mostrar mensagens de 2011

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Escolha

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Procurei-te não sei em que fim de tarde de Outono, quando o sol começava a desaparecer atrás dos montes e os seus raios beijavam ainda as folhas vermelho-acastanhadas das árvores. Em frente a mim estendia-se um caminho de terra batida, antigo e esburacado, que se desdobrava mais adiante, como que a imposição de uma escolha a partir da qual se desenharia o futuro nas linhas da vida. Por trás de mim, ao fundo, erguiam-se os montes, imponentes, difíceis de subir, parecendo fundir-se com o céu e as nuvens. Por cima destas, bem lá no alto, vislumbrava-se já o recorte branco da lua, um traço fino como a pincelada suave e precisa de um artista, uma lágrima suspensa no céu. Dia e noite, sol e lua, coexistindo em harmonia, o equilíbrio perfeito entre a luz e a escuridão, a atracção inegável de dois opostos... Parei, no meio da estrada, sem saber o que fazer, qual o caminho a seguir. O vento não passava de uma brisa amena que acariciava o meu rosto; a minha sombra projectava-se no solo como uma

(Un)Reality

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É quando me refugio nos recantos negros da noite que a sinto. Vem devagarinho, silenciosa e reconfortante, como a carícia esperada de um amante, para depois me surpreender com a sua presença esmagadoramente forte e perturbadora. Embora já consiga antecipá-la, nada consigo fazer para lhe resistir e, enquanto ela penetra o mais profundo do meu ser, toma conta da minha alma e desencadeia em mim esse frenesim louco e dormente que me passa a comandar, eu sou apenas espectadora de mim própria, retirada de mim, um outro eu que não aquele que me sinto sem o ser realmente, como se aquilo que verdadeiramente sou fosse este visitante inquieto que à noite assola o meu corpo e o meu espírito. Nessas alturas, é como se toda a minha vida mais não fosse doq ue um perpétuo limbo, lusco-fusco de emoções recalcadas, crepúsculo de alguém que, sem ter vivido,a guarda a morte, e apenas vive e renasce em toda a sua plenitude nesses escassos momentos em que ela vem. Sim, é quando a sinto, essa luz diáfana e i

Something out of my mind

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E então chegou o dia em que ele foi ter com ela para se despedir. Levava no coração a tristeza de a ver partir e a alegria de saber que ela voltaria e, embora se estivesse a despedir de duas pessoas diferentes numa só, prometera a si próprio agir como se fosse apenas uma delas. Levava algo para lhe dar, algo que representava um pouco de si. Gostaria de ficar com algo dela, mas não o disse. "Espero que corra tudo bem", disse-lhe ele. «Espero que sintas saudades minhas», pensou. Ele não precisou de lhe dizer que iria ter saudades dela, porque ela já o sabia, tal como sabia tantas outras coisas que ele não lhe podia nem devia dizer. Mas sim, ele iria sentir a falta daquelas duas pessoas que ela é, de ambas com a mesma intensidade, e aguardaria o regresso de ambas com a mesma vontade. Ele não queria que ela visse nele nada a não ser o sorriso e a boa disposição, para que assim tivesse vontade de voltar a vê-lo. Não queria mostrar tristeza nem sofrimento nem insegurança. E, por is

A place where I can be...

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Todos nós temos um local especial onde nos sentimos livres, onde deixamos cair as máscaras e nos permitimos ser, em pleno, sem termos de fingir. Podemos ir a esse local muitas vezes, ou apenas de vez em quando, mas quando o fazemos sentimo-nos renascer para nós próprios e para a vida, e conseguimos ver claramente, bem dentro daquilo que somos, e encontrar respostas para os nossos problemas. Normalmente estamos sós nesse local, mas podemnos levar lá alguém especial, que nos compreende e com quem nos sentimos bem, e podemos partilhar com essa pessoa essa sensação de paz, de liberdade e de amor incondicional que nos invade. O meu local especial não é apenas um. É a natureza em estado selvagem, representada por uma paisagem de mar e rochas ou por árvores cobertas de fetos e musgo. É onde eu sinto vontade de abrir os braços e abraçar o universo, de fechar os olhos e ficar a ouvir o silêncio, onde me sinto simultaneamente pequena e parte de tudo. É raro ir a um local assim, e às vezes a nece

Sentir

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Queria sentir. Queria conseguir deixar de sentir. Queria sair deste estado de apatia e queria conseguir chorar porque estas lágrimas que caem na minha alma e me sufocam não são visíveis... não me deixam respirar... quero ser eu, quero rir, quero o meu mar... como é que podemos perder algo que nunca tivémos? quero libertar-me de mim, quero ser uma pessoa melhor, alguém que mereça a pena amar... quero dizer tudo o que não se pode dizer e fazer tudo o que não se pode fazer e não quero nada disto... não sei quem sou, não sei o que quero...não sei para onde seguir, não sei onde ir buscar forças... não quero seguir, não quero forças... quero aquele mundo em que eu estava feliz...

30 anos e um poema

Quem me sei não o esqueci, mas não o digo. Prefiro esconder-me de mim dentro de mim E assim ser apenas aquilo que pareço ser. Sonhos, promessas, ilusões, esperanças... Porque insistem se não vos posso ter? Se vos abandonei quando me abandonei? A realidade de ontem foi o sonho pleno A realidade de hoje foi apenas a realidade A realidade de amanhã poderá ser o que eu quiser? A criança que fomos para onde foi? O sorriso que temos virá do coração? As lágrimas que não choramos virão da alma? Os sonhos que temos poderão chegar a ser? Enquanto a vida é vida... Será que estamos sempre a tempo? Será que é a idade que dita o tempo e eu devo acordar? E começar a morrer?

Algoz

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Adormeces-me os sentidos nesse torpor oco e obscuro de que revestes o ar por onde passas sempre que anoitece no meu coração. Gostaria de te dizer como em tão pouco tempo conseguiste dilacerar a minha alma e arrancar esse âmago poderoso a que sempre chamei vida, como destruíste todos os sonhos e converteste em mágoa todas as realidades que contigo vivi. Gostaria, mas não to digo, porque a minha garganta está seca e os meus olhos enevoados. Já me secaram todas as lágrimas, já apodreceram todos os resquícios de vida, já não sou livre para agir. Converti-me na minha própria sombra, na sombra de alguém que já não é, que deixou de existir há muito tempo e apenas rasteja pelo chão sem ver o sol, encoberto pela densa vegetação. Não gosto de mim assim. Se pudesse libertar-me-ia deste invólucro amortalhado, destas cicatrizes impostas pela vida, destes sentimentos e pensamentos e aí poderia voar e ver e seguir ao sabor dessa corrente indelével e alcançar a paz e a harmonia que tanto desejo. Tu n

Intransparente

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Na diferença entre a vida e a Vida, Na distância que mede um sonho e o Sonho, Há o desabrochar perfeito da Esperança, O renascer completo do Ser, O reconhecimento efémero do Eu.