Fugi

Fugi para dentro de mim e não mais saí. Sinto-me só porque não aprecio a minha companhia. Desapareci da face do Mundo, transpareci-me até à invisibilidade de uma sombra que lá não está. Renunciei a uma vida que sinto palpitar nos recantos da minha alma, que me chama a cada esquina da existência e se desflora perante mim espontânea e convulsivamente.
Não sei para onde fui que me não encontro nem mesmo no refúgio onde me encarcerei. Desintegrei-me, deitei-me fora e deixei-me sozinha no vazio. Sei que no passado longínquo da infância eu existia e estava e era como me penso, mas é impossível voltar ao que já morreu. E voltar ao que sou... Ilusão credível dos ingénuos, pois o que é nada não pode voltar a ser essência e espírito e corpo e desejo e riso!...
Andei à deriva, atirei-me da ponte mais alta do sonho, voei nas asas do Inferno do passado e morri em carne e mente e atirei-me aos cães que me desprezaram. Alimentei-me de fel e enegreci completamente. Vomitei-me e renasci para a podridão e o lodo do Mundo. E foi então, nessa mesma altura, que me retirei para dentro de mim e lancei o meu Eu ao vento para que ele pudesse crescer. Talvez um dia me encontre do outro lado do escuro, na outra margem da dor, depois da ponte do Mundo.
15 de Junho de 2005
( no Seminário de Literatura Portuguesa )

Comentários

Heavenlight disse…
Mostrei este texto à minha colega e amiga Helena, que comentou logo. Conforme prometido, aqui fica a nota crítica a esta publicação ;)

"Não sei como é que tu, dizendo que tens sempre a imagem do teu filho presente, consegues ter uma visão tão pessimista de ti e da vida. Risca o que escreveste e em vez destas palavras tristes e deprimentes colaa foto do teu tesouro. Já sabes o que penso de ti e do caminho que deves seguir. Vai em frente e deixa as cores negras para trás. Apesar das dificuldades, a vida tem de ser o que queremos fazer dela. Está ñas tuas mãos.
*conselho: Não dês muito espaço!!! :) "
Anónimo disse…
Fico contente por não te teres esquecido do meu comentário!

Beijos,
Helena

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