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Schiuu...

- Não digas nada. Abraça-me e embala-me devagarinho ao som do bater dos nossos corações. Beija-me e toca-me na face como se o fizesses pela primeira vez. Calemos as palavras; deixemos falar o coração. Ele sabe sempre o que dizer quando falha o pensamento. Schiuuu...

Abandono OU Eterno Abraço

Vens nas noites calmas de Inverno. A chuva cai lá fora, num outro espaço que não é o meu, num outro silêncio de que não fazes parte. Os meus dedos acompanham o correr dos pingos da chuva nas vidraças de uma janela há muitos anos fechada para o mundo. Vejo o escuro do céu como companheiro apaziguador da luz que me tolda os pensamentos e recordo o que outrora fui nessas estrelas brilhantes que pensam iluminar a atmosfera pesada do universo. O fogo crepita na lareira e as últimas velas derretem ao sabor das chamas. Daqui a pouco, quando a última centelha se extinguir, ficarei submersa nas sombras e no silêncio. E o bater do coração cessará também. E a imensidão da noite acolher-me-á para a eternidade. Não tenho medo. Anseio por esse momernto há muitos anos. Já se acabou a comida, e a água deposta no cântaro é turva e sabe a lágrimas que caíram pelo meu rosto em espasmos abundantes há alguns dias. Não tenho medo. Deixei de chorar quando percebi que isso me mantinha viva e lúcida. Se a lo

Sem Sentido

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Abraça-me devagarinho nessa dormência rouca em que me projectas no infinito. Olhares que se cruzam, ávidos de sabedoria. O universo não existe. O sonho é tudo. A vida é o nada de promessas desfeitas e caprichos desmedidos que assolam o pensamento de alguém que morre cada vez que renasce pelo orgasmo das emoções irrepreendidas. Sente o quanto eu quero desprender-me em cada gesto que faço para me ancorar em ti. Em cada palavra de amor que te digo, em cada olhar de desejo, em cada carícia inocente que não te faço. O que é isto? Isto é o princípio inacabável de um não-sei-o-quê que se me impõe e se me revela à mesma luz ofuscante e baça que vejo e revejo dolorosamente. Isto é o fim de tudo o que não começou. Isto não sou eu e é cada um de nós. O que quero eu de mim? O que queres tu? O que queremos nós, vós, eles e um turbilhão de vozes indecifráveis que se misturam nas sombras negras da minha alma? Eu não tenho alma. Dei-me ao vento e ele levou-me para um espaço intermitente entre o ser e

Fim de tarde

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Procurei-te nas tardes de sonhos reprimidos e insatisfeitos. Vieste, enfim, com cheiro a saudade e sabor a carícias, coroado com a espuma das ondas. Recolhi-me ao teu corpo dourado do sol e escondi-me do mundo. "Protege-me!!" Abriste os braços e deixaste entrar o sol do entardecer, que penetrou o meu coração e o deixou em lágrimas. "Adeus." O mar recuou e no teu lugar ficou um rasto de luz. Perdurou no horizonte do inconsciente, ofuscou-se pelas sombras pontiagudas das rochas, gigantescas, sobre mim. Maré salgada, lágrimas de sal - a fusão do universo com a criatura. Voltei algum tempo depois. Quanto? Muito... Voltei e vi o mesmo céu ao fim de tarde, as mesmas ondas coroadas de espuma, a mesma areia quente, sedosa e dourada. E a luz ainda lá estava. "Já não sinto nada..." Voltei as costas, mas dois braços envolveram-me e apertaram-me e fecharam-se em mim num abraço profundo. "Deixa-me proteger-te..." Abri os olhos e vi um outro alguém. E os raio

Confissão

O que é a existência senão a mera transfiguração do ser em auras e momentos de luz e sombra? Ou de ambos... todo o ser é ambíguo e mutável, capaz de se moldar e modelar a partir de si mesmo ou do ambiente em que se projecta. Passamos do ódio ao amor, da tristeza à alegria exuberante tão espontaneamente que por vezes - na maioria das vezes - essa transição é quase imperceptível. Eu carrego em mim o sabor da vida porque existo, porque me identifico com a vida nas suas vertentes de sofrimento, contemplação, alegria e luta, porque sinto em mim a vontade de ser. E ser significa conquistar, conhecer, aprender, mas também significa cair. E é nessa altura que o ciclo se renova . Desistir . Pensei nisso em diversas alturas. Pedi à minha vontade que fizesse o mesmo, e ela riu-se da minha fraqueza e mostrou-me que a vida em si é já um objectivo, senão O objectivo real, primordial, derradeiro. Quando olho para trás vejo inocência, revolta, fraqueza, dor, alegria, cansaço, aprisionamento, orgulho,

Toca-me ao de Leve...

Vi-te não sei em que sonho pintado de chuva, daquela chuva quente que liberta a alma e a conduz a um grau de felicidade suprema. Tocaste a minha vida ao de leve, mas a mão apaziguadora do teu olhar ficou para sempre impressa no meu coração, impregnou a minha vontade e fez-me voar sem razão até ao mais profundo de mim. Qual o ser humano que nunca amou? Que nunca chorou por ninguém? Cujas barreiras de vidro não se quebram perante o crescendum puro do inexplicável? Eu não conheço, e não quero conhecer. Eu vibro com o amor que sinto mesmo quando o recalco e ele me abrasa o peito e me faz gritar. Vibro com as memórias das palavras que disseste, os olhares que tocaram os meus e os beijos que se perderam no meu corpo. Vibro com tudo o que não me disseste, com as alturas em que não me tocaste, com o abraço em que não me refugiei. E sei que sou para ti mulher não apagada mas viva através dos tempos, alimentada pelo fogo que consome o teu espírito nas horas de solidão. Toca-me hoje, agora! Resti

Para Ninguém

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Mas o "tu" é ninguém... apenas o eco da minha própria solidão. E eu enrolo-me sobre mim e sonho com a ilusão de amar... o amor não existe.

Pedra

Mordi a minha alma e ela voou para longe, numa viagem sem regresso. Eu fiquei ali, abandonada, pregada ao chão como um pedaço de pedra lascada sem destino. Já não sentia nada, e isso era tudo aquilo que eu queria. Ser pedra insensível ao amor, ao ódio, ao mundo, a mim própria. Desprender-me e renascer como um nada que se apaga sequencialmente até às raias da exaustão que não pode apreender. Mas não, não foi como eu quiz. A alma partiu, livre, mas o corpo ficou. Aos poucos foi saindo do torpor que o envolvera e então os meus olhos fitaram outros e brincaram com eles independentemente da minha vontade. A essência desses olhos arrepiou a minha pele e eu percebi que o meu corpo continuava vivo e sentia, oh, se sentia!!! Aninhei-me nuns braços fortes e caminhei em direcção às estrelas, louca e espontaneamente, sem medos ou vergonhas, sem amor, porque esse só se consegue com a alma e essa eu arrancara para sempre. Sou agora pedra que sente apenas aquilo que se permitir. Solidão? Não tenho me

Reflexos Transparentes

Pintei-me de chuva e caí no teu rosto, nas tuas mãos e nos teus cabelos de forma quente e insistente. Depois, devagarinho, vesti-me de lua e iluminei as tuas noites, velei o teu sono e guardei as tuas fantasias. Tu sentias-te assim, acompanhado, preenchido, mas não atribuias forma nem nome à sombra que se aninhava no teu corpo e te pedia amor. Caminhavas de rosto erguido para o Mundo e deixavas-me para trás. E eu, eu!!!..., eu apressava-me a ser o raio de sol que lambia as tuas faces e te fazia sorrir de prazer. Enquanto contemplavas a Natureza, eu era a erva sobre a qual estendias o teu corpo, e abria os meus braços para te acolher com carinho e frescura. Quando te levantavas, o perfume das flores que levavas na roupa e na pele era a minha forma de te murmurar ao ouvido: "Estou aqui!". As ilusões têm um fim. Eu não podia ser só chuva e lua e raio de sol e erva e perfume e sombra. E então despi-me de mim e fiquei só Eu. As minhas lágrimas molharam o teu peito. A porta bateu.

De mim para ti, um pedaço de luz...

Ontem caminhámos lado a lado, abraçados, por entre a noite e o silêncio. As estrelas multiplicaram-se no espaço do meu sonho e transportaram-me para o universo dos sentidos, e eu fechei os olhos e senti-me feliz por estar junto a ti. Sinto-me inocente, vejo-me novamente menina que pode desejar com vontade e ter ilusões de amor, retrato-me em cada pedaço de luz que me chega do céu dos pensamentos. Será que é permitido sentir-me novamente assim? Será que o amor ainda tem um cantinho no meu coração? Eu tinha enterrado o coração. Tinha-o amordaçado, ferido, recortado em círculos de ódio e mágoa, cinzentos como uma fogueira apagada, tristes como folhas caídas ao abandono. Mas oh!, surpresa deliciosa e boa, ele ainda vive! Solta-se devagarinho e renova-se; renasce para o mundo e para mim e diz-me que eu mereço ter algo que bata e vibre no peito, e eu sorrio bem para dentro de quem sou e abraço-o, deixando-me voar de encontro à noite com que tantas vezes sonhei! Os teus dedos brincam nos meus
Eu vou ser feliz e beijar a lua, Contar-lhe os segredos do dia e da luz, Aproveitar cada pôr-do-sol para sonhar, Atravessar o arco-íris e encher-me de cores. Vou oferecer a vida ao meu amor, Comungar de sorrisos e esperanças, Procurar o vento do norte E voar pelos céus. Vou gritar do alto de uma montanha Para ser ouvida do outro lado do mundo, No fundo do oceano, E vou andar à chuva e dançar, dançar, dançar!!! Vou abraçar, amar, vibrar, Vou parar à beira de um caminho E ouvir o silêncio à minha volta, E vou bebê-lo, cantá-lo, senti-lo Pulsar bem forte no meu coração. Vou acreditar na vida E deixá-la conduzir-me, lado a lado, Até ao fim do meu percurso. Será???

Imperativo

Corre Dança Pula Sonha Ama Bate Sente Luta Sofre Acorda Abraça Ri Deseja Grita Olha Vibra VIVE!!!

(Des)construção do Eu

Eu quero escrever um poema Cheio de cores, e alma e vida, Para que ele fique registado No coração do Mundo. Vou salpicá-lo de desejos e sonhos E soltá-lo como a um pássaro, Para que bem lá do alto um dia Ele possa tocar os corações dos homens. Já o escrevi!!! Contei-lhe segredos do mar e da lua, Impregnei-o com o fogo da minha alma, E falei-lhe de alguém que não sou eu. Um dia, quando eu for velhinha, Ouvi-lo-ei nos lábios de uma criança. Como ela tão bonito e inocente! Tão alegre e positivo! "Quem o escreveu viveu feliz", ouço dizer. E eu cruzo os braços sobre o peito E fecho os meus olhos por fim, Cansados de tristeza, e ódio, e ilusões, Sem que ninguém me tenha conhecido. 30-07-2005

De dentro de mim

Quero serpentear por entre as flores Do teu jardim de sonho e vida, Oferecer-te os meus segredos, Partilhar a tua alegria e a tua dor. Vou subir à altura dos teus olhos E dizer-te que te amo Sem precisar de falar. Vou sentir a tua pele, os teus lábios, Nos sonhos das minhas noites, E acariciar cada momento Que a ilusão me dá a teu lado. Quero sentir-te bem perto, respirar o teu ar, Trazer comigo o teu cheiro, A tua essência, Despertar nos teus braços e sentir a vida Pulsar bem forte dentro de mim. Vou beber a chuva do teu riso, Enxugar o calor das tuas lágrimas, Ensinar-te a saudade, a alegria, o sentimento. E depois de tudo isto, Bem quieta, Vou pedir-te para me ensinares o que aprendeste comigo, Vou desejar que adivinhes o que te não digo, E vou fingir que tudo isto é verdade e que não acordei.

Fugi

Fugi para dentro de mim e não mais saí. Sinto-me só porque não aprecio a minha companhia. Desapareci da face do Mundo, transpareci-me até à invisibilidade de uma sombra que lá não está. Renunciei a uma vida que sinto palpitar nos recantos da minha alma, que me chama a cada esquina da existência e se desflora perante mim espontânea e convulsivamente. Não sei para onde fui que me não encontro nem mesmo no refúgio onde me encarcerei. Desintegrei-me, deitei-me fora e deixei-me sozinha no vazio. Sei que no passado longínquo da infância eu existia e estava e era como me penso, mas é impossível voltar ao que já morreu. E voltar ao que sou... Ilusão credível dos ingénuos, pois o que é nada não pode voltar a ser essência e espírito e corpo e desejo e riso!... Andei à deriva, atirei-me da ponte mais alta do sonho, voei nas asas do Inferno do passado e morri em carne e mente e atirei-me aos cães que me desprezaram. Alimentei-me de fel e enegreci completamente. Vomitei-me e renasci para a podridã

Desabafo

Estou tão só. Sinto o vazio dos olhares dos outros, O vazio do meu próprio olhar. Quero o calor de um abraço, O fogo de um beijo, O carinho de um corpo junto ao meu; Quero afundar-me nos braços de alguém E ser feliz por um momento. Muito tempo? Pouco? Quem sabe?... Não há barreiras mas sim vontade, Não há limites mas sim desejo.

Vazio

Amanha não quero acordar. Quero acabar com a dor, Com as máscaras; Quero ser eu bem longe de mim! Quero ter coragem para dar esse passo derradeiro, Mas sei que não tenho. Já estive ali, à beira do precipício, Comecei a contagem decrescente, mas voltei para trás. Estou cansada. Cansada de lutas que eu não pedi, que eu não quero travar, Cansada de escolhas que não posso fazer, Cansada de mim. Vivi intensamente. Sofri, fiz sofrer, entreguei amor, recebi prazer, entreguei prazer e recebi amor. Fiz loucuras!... Mas dentro ficou sempre o vazio... O vazio está agora mais presente, e queima e fere! Estou só. Só em presença, só no espírito, só no coração. Não tenho para onde me voltar, não tenho, não, não... Não estou a viver. Choro. Eu sei que dois olhos inocentes anseiam por luz, precisam que eu veja por eles, E é isso que me impede, Mas será que estou a ser egoísta e má ao desejar ter coragem para não pensar nisso? Eu sei que estou. Mas está a tornar-se insuportável viver. E a culpa é do ódi

Não me perguntem

Não quero saber o que dizem os pássaros, Tão-pouco o que contam os sinais dos céus; Quero olvidar esses sabores amargos, Essas formas de poesia que cantam a morte. Partam o mundo ao meio, Retirem a seiva quente e pulsante, Curem as feridas, E construam um paraíso de chamas E afundem-se nele!!! Ah... universo desenfreado de enredos Intrigas, preconceitos, ilusões vãs... Tétano nas veias da vida, veneno doce... Eu vivo aqui. Mas não quero. Deixem-me!!! Não!!! Eu quero voar para longe E ser um pássaro diferente. Ou um peixe com asas.

Quero

Quero Quero fugir para o infinito Rodear-me de esperança e amizade Quero Escalar montanhas e pisar a erva fofa Dançar à chuva e saudar as nuvens Atravessar raios de sol e luz Quero Quero sorrir a bandeiras despregadas E rasgar o ar com gargalhadas e beijos E pular no meio da rua Quero Cantar tão forte quanto o mar Voar alto como a areia da praia Abraçar uma árvore e falar com Deus Quero Sair à rua e beijar as estrelas Caminhar na lua e ver um reflexo De um rosto feliz, que sorri com a alma E descobrir que esse rosto sou eu E tu E o Mundo.

Gelo de Sangue

E, devagarinho como quem mede as distâncias, como quem calcula cada passo, mas com a espontaneidade própria do instinto, Lana gravou em pedra as seguintes palavras: Diman, Lembras-te da noite em que me fizeste tua pela primeira vez? De veres a felicidade no meu olhar quando me abracei a ti e te deixei tornares-me mulher, tu já um homem, determinado, carente? Lembras-te da intensidade com que te amei durante anos, adorando a tua força, a tua personalidade, a forma como falavas e olhavas para mim, o teu corpo? Lembras-te de juntos olharmos o céu e nos fundirmos nele, de mansinho, das promessas de amor, de me tomares em teus braços e dançarmos de forma mágica, esquecendo tudo à nossa volta? Lembras-te de eu te dizer que nunca amaria outro, que iria esperar por ti sempre, que nunca, nunca te iria esquecer? Lembras-te de quantas vezes me fizeste sofrer e eu te perdoei? Da vez em que mataste algo em mim e eu fiz por esquecer que tinha acontecido? Não, Diman, eu nunca te esquecerei. Como

A little bit of myself - to myself

Hoje não tenho inspiração. Vou falar de alguém que não sou eu... mas como é isso possível se ao falarmos de alguém, mesmo inconscientemente, acabamos sempre por retratar um pouco daquilo que somos? Talvez vá então falar de mim sem me retratar... Hoje sou o que não quero ser, mas não desgosto de ser quem não me sonhei. Vivemos por detrás de máscaras ocultas; abaixo as máscaras e as ilusões! Mas, todavia, sonhar é sempre bom quando apenas se tem o sonho. Mas eu não sei quais sãos os meus sonhos. Já esqueci. Não o sei agora, mas recordo todos os sonhos do passado e, meu inimigo mais poderoso, como os desejo esquecer! Há desejos que matam, sonhos bons que atormentam e nos destroem. Pode-se sonhar, mas nem todos os sonhos devem ser saboreados pela experiência. O que sei eu da vida? Muito... e talvez nada. O nada das certezas é amargo e corrosivo; lancemos o nada às chamas e obteremos um tudo que se auto-destruiu. Lancemos o tudo ao vento e teremos um retrato daquilo que consegui com os meus
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Here I am... 

A Estrela mais Brilhante

Procuro a essência do teu olhar no lago profundo e misterioso daquilo que procuras em mim. Onde está o sonho que te uniu a mim no mar da esperança? Onde o sorriso que me fez procurar o significado da vida? Tento compensar a tua ausência com as recordações. Recordações do mundo que vivemos juntos, com o amor que tu me deste e que eu te dei. Foi o universo que te roubou de mim? Foi o mundo, ou fomos nós que não soubemos encaminhar os nossos sentimentos para um bem maior? Mergulho o meu olhar na lua prateada que me observa, e encontro lá o teu próprio olhar. Vazio. Sem vida. Não há nada que eu possa fazer. Nada que te devolva ao corpo que eu amei. * A tua alma é agora livre e feliz. Tens agora em ti, real, o sonho que te fazia desesperar por não ser verdadeiro. Tens a oportunidade de uma vida espiritual bem melhor. Devia estar feliz por ti, mas o meu materialismo, o meu egoísmo, impedem-me de me alegrar pela tua libertação. Os meus olhos já não vêem, só sinto a dor, a angústia porque nã

Metáfora

Olho a lua que enfeita a noite sombria, emitindo raios de luz ofuscante que violentam o meu ser. Prende-me no meio dessa mórbida loucura dormente e expandida e permite-te voar, flutuar num espaço onde chovem estrelas de fogo colorido e ofuscante, e transporta-me nesse teu abraço esmagador e sublime até à mais perfeita forma de sentir aquilo que somos sem medo do julgamento que nos condena à morte. Somos um produto de algo puro e inconstante, maléfico e divino, protector e ameaçador. Corremos nesta corda bamba das emoções, dos risos sufocantes de lágrimas, e não sabemos se do outro lado subsiste a morte crepitante ou a salvação momentânea. Sinto o teu beijo que queima os meus lábios por entre as sombras bruxuleantes do pecado que não vai existir, e procuro a essência da tua alma para além daquilo que a encerra. Responde-me! Mata de uma vez a ilusão angustiante de quem ainda acredita num sonho que não é cremado pela vontade egoísta dos punidores dos que amam, mas mostra-me aquilo que és

Devaneios (I)

Raios de luz perdidos na imensidão de um olhar que murmura palavras que os lábios nunca conseguiriam dizer excepto num beijo. Recordo a maneira como me prendi nesta profusão de sentidos em que pude dizer que fomos um do outro, num lugar sem tempo e sem memória, perdidos para sempre na amplitude daquilo que tu criaste para mim quando me envolveste no teu corpo de luar. Quero-te, e nessa ânsia de querer chego a odiar aquilo que me fazes sentir, a forma como me fazes desejar sair daquilo que sou eu dentro de mim e partir para um lugar onde possa começar de novo sem amarras, sem sofrimento. 2000

Devaneios (II)

A verdade que procuro para mim própria é aquela que os sentidos me negam, perdidos na mais absurda forma de acção daquilo que não é e não pode existir. Sinto que navego num barco sem ancoradouro sem ponte onde amarrar a corda do destino e, no entanto, reconheço que a verdade da luz subsiste para lá das cortinas de aço que eu própria construí. Sei o que é o certo e o errado, e mesmo assim tento encontrar no errado algum aspecto positivo que me faça seguir em frente – mesmo sabendo que nunca o vou encontrar, porque ele não existe, nem mesmo na minha imaginação. Teia de sonhos, teia de enredos e de esperanças destruída por um dedo imaginário que padece na obscuridade de uma palavra que nunca será dita. 2000

Devaneios (III)

As sombras adensavam-se cada vez mais. Era necessário fugir, encontrar um modo diferente de ser e de sentir a nossa própria ambiguidade e fazê-la retroceder até ao final dos tempos, até onde já não existisse mais a noção daquilo que podia ser e não foi feito. E então procuras a luminosidade daquele que foi o teu primeiro olhar, o primeiro olhar a sério para dentro da tua própria alma, do teu único ser, e encontras a multiplicidade, a divisão das formas, da essência de uma vida que anseia pelo reencontro e tem sede de conquista. Queres aperfeiçoar-te, perder-te no mais fundo abismo de ilusão e permanecer aquém de tudo o que te é negado, mas as tuas próprias fronteiras alargam-se, e aí é só o vazio, a incerteza de uma oração que não foi ouvida e te foi simplesmente negada, de algo que podias ter feito que te possibilitasse viver com a certeza de que não és quem pensas ser. 2000

Devaneios (IV)

Perdida nesse sonho, sem saber o que fazer par ame reencontrar no mais infinito do ser e de toda uma realidade que teima em sobressair do mais perene que existe no Mundo. O Amor mostrou-se-me num instante, sem eu saber se o sonho tinha acabado de começar ou se a vida me iria reservar mais alguma surpresa. Entreguei a minha alma, o meu corpo, todo o meu ser a algo que eu desconhecia e almejava simultaneamente encontrar, mas fui submetida ao mais tortuoso martírio, que é o sofrimento dos sentidos, quando o espírito e o desejo se fundem numa amálgama colorida e penetram na mais estranha ambiguidade do ser. Envolvi-me nessa aventura dos sentidos. Permiti-me encarnar todo o amor e entreguei-me à fantasia. Amei e sofri. Fui amada? Não sei... O que é o Amor, a não ser aquilo que quisermos fazer dele? 2000

Devaneios (V)

Once upon a time there was a beautiful girl who lived on a hill. She looked like an angel, but she didn’t have the wings to fly. She died without knowing how to live. 2000

Devaneios (VI)

Olhos de cristal... gotas de água pura e cristalina que se prende nas pétalas da mais perfeita rosa, esperando o desabrochar de um novo dia... Amo a tua solidão desesperadora, a tua obsessão pura por aquilo que é belo e inocente, mas não compreendo onde te escondes. Representas a minha procura e a minha renúncia... o que me faz lutar e desistir... a minha felicidade e o meu sofrimento... Amo aquilo que tens de sublime: essa mistura entre o bem e o mal, entre o negro e o transparente, na luta que travas contigo próprio. Amo-te e não sei porquê. Procurei esquecer-te, para te amar cada vez mais. 2000

Devaneios (VII)

Para onde foi o sonho, quando apenas restou a mágoa? Para onde foi a vida, agora que a morte assoma à tua porta? Para onde o amor, agora que a solidão é a tua única companhia? E no entanto foste tu quem quis assim... 2000

Devaneios (VIII)

A visão dos sonhos, da obscuridade do teu ser mais pleno que me renova e me faz sucumbir no meu próprio sonho, que nunca chegará a ser real. Procuras o meu corpo morto e já cansado para construíres promessas impossíveis de concretização, e eu verto as lágrimas que tento sufocar no teu coração ausente, no quebrar de um riso lamentavelmente nobre que subsiste para lá daquilo que suporta o meu amor por ti, transformado em mágoa. Desprendo-me do abraço que me transforma para além da realidade que edificámos, e enfrento a crueldade de um mundo que julga segundo preceitos que nunca ninguém escreveu, mas que a sociedade inventou. Qual é a verdade do teu olhar? O verdadeiro sabor de um beijo sentido que tu nunca me deste? O som das palavras ditas com o coração, que tu não sabes dizer-me? Porque de ti apenas me chegou a mentira encenada pela aparência de alguém que joga para ganhar. Não te odeio. Apenas desprezo. 2000

O Absoluto Não-Ser em Nós

Traços de sonho perdidos na noite... Brumas indeléveis de pecado... Cortinas de aço transparente... Procuras um sentido no absurdo do mundo, naquilo que evocam as emoções: Maquinarias despertas para o silêncio; Olhos cegos pela visão absoluta dos sentidos; Mãos que tacteiam a luxúria do aprisionamento; Submissão reflectida num jogo de poder. Jogas, perdes, apostas novamente. E, ao invés de caíres do alto, tentas levantar-te do lodo onde te encerras. Ilusões vagueiam ao sabor de uma dança de sombra, nas chamas bruxuleantes do desejo. Erguem-se as ondas de uma verdade escondida, e despedaçam-se contra as rochas do inalcançável. Queres mais, procuras, elevas-te, voas, aterras no sonho e despenhas-te na realidade de uma palavra que não foi dita. Não entendes, fechas-te ao mundo, és o que não queres ser, procuras o que sabes não encontrar. Cai o pano sob uma noite escura de lágrimas suspensas, esquecidas no entendimento daquilo que jamais será teu. Vazio... Defines-te o nada de tudo, o meio

Morte Temporária

Sinto. Estremeço, deixo o meu corpo vacilar perante a visão do teu corpo em chamas. Não quero ver, mas não consigo parar. Quero sair de mim mesma, mas isso é um pouco demais para pedir a um corpo tão imperfeito como o meu. Perante este espectáculo medonho em que te vejo arder, crepitar, e o teu corpo morto ficar sereno, sinto paz, para me sobressaltar logo a seguir: voltaste. Sorris com sarcasmo. Dizes que nunca te conseguirão vencer, e enquanto falas tornas-te grande, cresces diante dos meus olhos assustados; vais ganhar. É então que Alguém ateia a fogueira com força. Vejo-te tremer; queres desprender-te do fogo que te consome, mas ele é mais forte do que tu. Estranhos ruídos e misteriosos odores. Sofrimento. Gritas com dor; pedes à tua crença que te tire daquele mar de chamas. Dizes que odeias, que odiarás até morrer. Tenho medo. É então que te somes, gritando sempre. Preferiste o teu ódio. Preferiste o ódio ao amor. As chamas sobem infinitamente e, de repente, cessam. Já não há nada
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Corpo em chamas 

Desabafo de uma Louca

É nessas alturas delirantes de fogo em que a chuva bate de mansinho nos cantos do meu coração que me recordo do tempo dos sonhos e das conquistas desses meus devaneios desenfreados em que, suavemente, encostava a cabeça ao teu peito nú e me transportava para paraísos fechados e realidades mágicas de prazer incontido. Deixavas-me tão louca e tão segura de mim! Essas tuas promessas avassaladoras de paixão eterna, de risos inconfundíveis por entre os quais me davas a conhecer mais um milímetro desse teu mundo tão privado e tão secreto... e como eu me deixava agarrar pelos teus braços fortes e reencontrar-me no teu olhar sereno e tão especial! Fui uma marioneta nas tuas mãos, uma deusa entrelaçada no teu corpo, uma mulher-criança a bater à porta do teu coração, uma borboleta apagada por entre flores coloridas... fui o teu mundo, o teu riso e as tuas lágrimas... o teu poema, o teu desejo e o teu medo... fui aquela que mudou o curso da tua vida. Para melhor?... Para pior?... E onde estiveste
Vai alto o dia e o sol pôs-se no horizonte dos meus sonhos. É tempo de sonhar o adormecer, o ocaso de tempestades longínquas, o caos de um futuro sem presente. Vai alto o dia e a noite tolda os meus pensamentos, enxagua as minhas memórias, afaga as minhas ilusões. O meu olhar é um riso gelado que perpetua o silêncio ensurdecedor do meu ser. Devaneios passeiam-se pelo meu corpo, num êxtase enlouquecedor de carícias moribundas que já não são. Devolvo o olhar à mágoa, volto as costas aos recantos da solidão. Eu sou mais. Eu sou tudo o que eu quiser ser. Posso ser qualquer um, todos, tantos, mas não me encontro em nenhum. Desdobro-me em farrapos de metal, tiras de cetim, pedaços de vento. Eu sou tudo o que eu quiser. E o que sou eu? Apenas aquilo que nunca há-de ser. Vai alto o dia e o luar desponta no azul do mar. Anseio por dormir, desejo o ontem, desejo rasgar as noites de sol onde me perdi, sonho não mais odiar para poder encontrar-me onde fiquei.
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Dança de Sombras 
Entonteço. O pano cai. Levanto-me e olho o véu de luz que se formou, qual chama pálida de vela que se expande até formar o mais bonito e brilhante raio de sol. Sinto vultos estranhos à minha volta, dançando no fogo, que não falam, não vêem, não escutam, apenas dançam à roda, cada vez mais rapidamente. não têm forma humana, muito menos forma animal. São mistura da aura, da vibração, do espírito e da alma, procurando alcançar a luz para nela se adensarem e tornarem melhores. Aquele vulto sou eu, retirada de mim... Renasço. O pano abre. Sento-me na areia quente do sol e olho o mar cintilante. Apercebo-me da realidade da vida, que desconheço. Gaivotas voam em círculos. As ondas, furiosas, batem nas rochas, revoltadas. O brilho do sol enfraquece. Estrelas de prata enchem o céu, guardadas por uma única pastora, a lua cheia, qual lago prateado perdido na escuridão fria da noite. Por um momento relembro a dança mística das sombras, mas logo esqueço. Sinto a vida como como um fio de luz perdid