Pedra

Mordi a minha alma e ela voou para longe, numa viagem sem regresso. Eu fiquei ali, abandonada, pregada ao chão como um pedaço de pedra lascada sem destino. Já não sentia nada, e isso era tudo aquilo que eu queria. Ser pedra insensível ao amor, ao ódio, ao mundo, a mim própria. Desprender-me e renascer como um nada que se apaga sequencialmente até às raias da exaustão que não pode apreender.
Mas não, não foi como eu quiz. A alma partiu, livre, mas o corpo ficou. Aos poucos foi saindo do torpor que o envolvera e então os meus olhos fitaram outros e brincaram com eles independentemente da minha vontade. A essência desses olhos arrepiou a minha pele e eu percebi que o meu corpo continuava vivo e sentia, oh, se sentia!!! Aninhei-me nuns braços fortes e caminhei em direcção às estrelas, louca e espontaneamente, sem medos ou vergonhas, sem amor, porque esse só se consegue com a alma e essa eu arrancara para sempre.
Sou agora pedra que sente apenas aquilo que se permitir. Solidão? Não tenho medo de estar só por vontade, e a minha vontade agora só depende de mim.

Comentários

Sophia disse…
Entregar-se à dor não é o melhor caminho e é impossível viver e conviver sem sentir nada, nem que seja apenas um sentimento de vazio, mas algo se sente. Pode parecer o melhor caminho e o mais fácil, mas é também o mais amargo, solitário e difícil.
Vitor Soares disse…
São sentimentos que também já tive, muito escritos e descritos :)
Anónimo disse…
Deixa de ser pedra e pede desculpa à tua alma. Vais ver que ela te perdoa. E o teu blog também está lindo... ;)
maresia disse…
obrigada pelo teu comentário.
às vezes o que eu gostava era isso mesmo "Ser pedra insensível ao amor, ao ódio, ao mundo, a mim própria."
maresia disse…
Passa pelo Prédio e diz de tua justiça!!

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