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A mostrar mensagens de agosto, 2005

Pedra

Mordi a minha alma e ela voou para longe, numa viagem sem regresso. Eu fiquei ali, abandonada, pregada ao chão como um pedaço de pedra lascada sem destino. Já não sentia nada, e isso era tudo aquilo que eu queria. Ser pedra insensível ao amor, ao ódio, ao mundo, a mim própria. Desprender-me e renascer como um nada que se apaga sequencialmente até às raias da exaustão que não pode apreender. Mas não, não foi como eu quiz. A alma partiu, livre, mas o corpo ficou. Aos poucos foi saindo do torpor que o envolvera e então os meus olhos fitaram outros e brincaram com eles independentemente da minha vontade. A essência desses olhos arrepiou a minha pele e eu percebi que o meu corpo continuava vivo e sentia, oh, se sentia!!! Aninhei-me nuns braços fortes e caminhei em direcção às estrelas, louca e espontaneamente, sem medos ou vergonhas, sem amor, porque esse só se consegue com a alma e essa eu arrancara para sempre. Sou agora pedra que sente apenas aquilo que se permitir. Solidão? Não tenho me

Reflexos Transparentes

Pintei-me de chuva e caí no teu rosto, nas tuas mãos e nos teus cabelos de forma quente e insistente. Depois, devagarinho, vesti-me de lua e iluminei as tuas noites, velei o teu sono e guardei as tuas fantasias. Tu sentias-te assim, acompanhado, preenchido, mas não atribuias forma nem nome à sombra que se aninhava no teu corpo e te pedia amor. Caminhavas de rosto erguido para o Mundo e deixavas-me para trás. E eu, eu!!!..., eu apressava-me a ser o raio de sol que lambia as tuas faces e te fazia sorrir de prazer. Enquanto contemplavas a Natureza, eu era a erva sobre a qual estendias o teu corpo, e abria os meus braços para te acolher com carinho e frescura. Quando te levantavas, o perfume das flores que levavas na roupa e na pele era a minha forma de te murmurar ao ouvido: "Estou aqui!". As ilusões têm um fim. Eu não podia ser só chuva e lua e raio de sol e erva e perfume e sombra. E então despi-me de mim e fiquei só Eu. As minhas lágrimas molharam o teu peito. A porta bateu.

De mim para ti, um pedaço de luz...

Ontem caminhámos lado a lado, abraçados, por entre a noite e o silêncio. As estrelas multiplicaram-se no espaço do meu sonho e transportaram-me para o universo dos sentidos, e eu fechei os olhos e senti-me feliz por estar junto a ti. Sinto-me inocente, vejo-me novamente menina que pode desejar com vontade e ter ilusões de amor, retrato-me em cada pedaço de luz que me chega do céu dos pensamentos. Será que é permitido sentir-me novamente assim? Será que o amor ainda tem um cantinho no meu coração? Eu tinha enterrado o coração. Tinha-o amordaçado, ferido, recortado em círculos de ódio e mágoa, cinzentos como uma fogueira apagada, tristes como folhas caídas ao abandono. Mas oh!, surpresa deliciosa e boa, ele ainda vive! Solta-se devagarinho e renova-se; renasce para o mundo e para mim e diz-me que eu mereço ter algo que bata e vibre no peito, e eu sorrio bem para dentro de quem sou e abraço-o, deixando-me voar de encontro à noite com que tantas vezes sonhei! Os teus dedos brincam nos meus
Eu vou ser feliz e beijar a lua, Contar-lhe os segredos do dia e da luz, Aproveitar cada pôr-do-sol para sonhar, Atravessar o arco-íris e encher-me de cores. Vou oferecer a vida ao meu amor, Comungar de sorrisos e esperanças, Procurar o vento do norte E voar pelos céus. Vou gritar do alto de uma montanha Para ser ouvida do outro lado do mundo, No fundo do oceano, E vou andar à chuva e dançar, dançar, dançar!!! Vou abraçar, amar, vibrar, Vou parar à beira de um caminho E ouvir o silêncio à minha volta, E vou bebê-lo, cantá-lo, senti-lo Pulsar bem forte no meu coração. Vou acreditar na vida E deixá-la conduzir-me, lado a lado, Até ao fim do meu percurso. Será???