Sem Sentido

Abraça-me devagarinho nessa dormência rouca em que me projectas no infinito. Olhares que se cruzam, ávidos de sabedoria. O universo não existe. O sonho é tudo. A vida é o nada de promessas desfeitas e caprichos desmedidos que assolam o pensamento de alguém que morre cada vez que renasce pelo orgasmo das emoções irrepreendidas. Sente o quanto eu quero desprender-me em cada gesto que faço para me ancorar em ti. Em cada palavra de amor que te digo, em cada olhar de desejo, em cada carícia inocente que não te faço. O que é isto? Isto é o princípio inacabável de um não-sei-o-quê que se me impõe e se me revela à mesma luz ofuscante e baça que vejo e revejo dolorosamente. Isto é o fim de tudo o que não começou. Isto não sou eu e é cada um de nós. O que quero eu de mim? O que queres tu? O que queremos nós, vós, eles e um turbilhão de vozes indecifráveis que se misturam nas sombras negras da minha alma? Eu não tenho alma. Dei-me ao vento e ele levou-me para um espaço intermitente entre o ser e o Ser. Dei-me à luz e ela mostrou-me as chamas e a desolação. Dei-me às trevas e elas sorriram para mim, aconchegaram-me os lençóis e ensinaram-me a viver.
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ps: óptimo o seu post...