Devaneios (III)

As sombras adensavam-se cada vez mais. Era necessário fugir, encontrar um modo diferente de ser e de sentir a nossa própria ambiguidade e fazê-la retroceder até ao final dos tempos, até onde já não existisse mais a noção daquilo que podia ser e não foi feito.
E então procuras a luminosidade daquele que foi o teu primeiro olhar, o primeiro olhar a sério para dentro da tua própria alma, do teu único ser, e encontras a multiplicidade, a divisão das formas, da essência de uma vida que anseia pelo reencontro e tem sede de conquista. Queres aperfeiçoar-te, perder-te no mais fundo abismo de ilusão e permanecer aquém de tudo o que te é negado, mas as tuas próprias fronteiras alargam-se, e aí é só o vazio, a incerteza de uma oração que não foi ouvida e te foi simplesmente negada, de algo que podias ter feito que te possibilitasse viver com a certeza de que não és quem pensas ser.
2000

Comentários

Sophia disse…
Parece o início de uma história. Fiquei bastante curiosa e gostaria de ver uma continuação...

Mensagens populares deste blogue

Confissão

Pedra

Não me perguntem