Abandono OU Eterno Abraço
Vens nas noites calmas de Inverno. A chuva cai lá fora, num outro espaço que não é o meu, num outro silêncio de que não fazes parte. Os meus dedos acompanham o correr dos pingos da chuva nas vidraças de uma janela há muitos anos fechada para o mundo. Vejo o escuro do céu como companheiro apaziguador da luz que me tolda os pensamentos e recordo o que outrora fui nessas estrelas brilhantes que pensam iluminar a atmosfera pesada do universo. O fogo crepita na lareira e as últimas velas derretem ao sabor das chamas. Daqui a pouco, quando a última centelha se extinguir, ficarei submersa nas sombras e no silêncio. E o bater do coração cessará também. E a imensidão da noite acolher-me-á para a eternidade. Não tenho medo. Anseio por esse momernto há muitos anos. Já se acabou a comida, e a água deposta no cântaro é turva e sabe a lágrimas que caíram pelo meu rosto em espasmos abundantes há alguns dias. Não tenho medo. Deixei de chorar quando percebi que isso me mantinha viva e lúcida. Se a lo...