(Un)Reality

É quando me refugio nos recantos negros da noite que a sinto. Vem devagarinho, silenciosa e reconfortante, como a carícia esperada de um amante, para depois me surpreender com a sua presença esmagadoramente forte e perturbadora. Embora já consiga antecipá-la, nada consigo fazer para lhe resistir e, enquanto ela penetra o mais profundo do meu ser, toma conta da minha alma e desencadeia em mim esse frenesim louco e dormente que me passa a comandar, eu sou apenas espectadora de mim própria, retirada de mim, um outro eu que não aquele que me sinto sem o ser realmente, como se aquilo que verdadeiramente sou fosse este visitante inquieto que à noite assola o meu corpo e o meu espírito. Nessas alturas, é como se toda a minha vida mais não fosse doq ue um perpétuo limbo, lusco-fusco de emoções recalcadas, crepúsculo de alguém que, sem ter vivido,a guarda a morte, e apenas vive e renasce em toda a sua plenitude nesses escassos momentos em que ela vem. Sim, é quando a sinto, essa luz diáfana e inspiradora de imaginação feita sonho, essa passagem plena para a liberdade da minha mente e da minha alma, que eu me sinto Eu e abro as portas aos sonhos, às mágoas, às fantasias e às emoções que habitualmente empurro para um recanto escondido do meu ser, longe dos convencionalismos, das regras e do politicamente correcto. Quando liberto de mim própria aquilo que Sou, experiencio uma catadupa atordoante de pensamentos e emoções, de tal forma que gostaria de conseguir escrever rápido o suficiente para poder registar tudo, mas é impossível. E então desisto e ficop apenas a sentir, enquanto contemplo as estrelas, deslumbrada com a descoberta de mais um pedacinho desse universo infinito que é este Eu, e depois fico triste por saber que não posso ser sempre assim como me descobri.

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